El filólogo y ensayista Rui Dias Guimarães
Crear en Salamanca se complace publicar unos apuntes de Rui Dias Guimarães (Celorico de Basto, Portugal, 1950), profesor de la Universidad de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), doctor en Filología Potuguesa por la Universidad de Salamanca y Máster de Estudios Europeos y Derechos Humanos por la Universidad Pontifica de Salamanca. Este trabajo está escrito no sólo desde el plano de un destacado especialista académico, sino también por alguien que, por su lucha contra la dictadura portuguesa, tuvo que exiliarse primero en Bélgica (trabajando por la defensa de los Derechos Humanosbajo el amparo de Naciones Unidas), luego en Suecia (muy cercano al trabajo de Olof Palme), para finalmente recalar en Dinamarca, desde donde denunció la dictadura portuguesa y su guerra colonial, además de trabajar con ciudadanos escandinavos, exiliados portugueses y de otras nacionalidades, familiarizándose con diferentes ideologías políticas y culturas, hasta su regreso a Portugal, en abril de 1974. Sus principales ámbitos de investigación en la UTD son la Filología Portuguesa, las Ciencias del Lenguaje, las Ciencias de la Comunicación, la Cultura Portuguesa y los Derechos Humanos. También forma parte del Centro de Estudios Ibéricos y Américanos de Salamanca (CEIAS).
Estos apuntes son sólo un fragmento de un largo ensayo sobre el tema ahota presentado en exclusiva para los lectores de Crear en Salamanca. Como un homenaje a su trayectoria y a su país, publicamos el texto en el portugués original en que fue escrito.
Revolución de los claveles, 25 de abril de 1974, Lisboa
OS EXILADOS PORTUGUESES NA DINAMARCA E NOVOS CONCEITOS POLÍTICOS
Não só Portugal teve os seus exilados. Também Espanha conheceu, entre outros, Miguel de Unamuno (1864-1936) o Reitor de Salamanca, antifranquista que salientou a necessidade de preservar a integridade moral face à conformidade social e ao fanatismo e hipocrisia.Foi exilado e passou seus últimos dias em prisão domiciliar. Mestre de Miguel Torga (1907-1995) e Teixeira de Pascoaes (1877-1952),com discípulos no passado e no presente, insere-se na tradição portuguesa, muitas vezes esquecida, de Antero de Quental (1842-1891),sobretudo no domínio do iberismo e dimensão social.
Adotamos um novo conceito de história, que não contrapõe ou acumula diferentes narrativas isoladas de diferentes espaços mas perspetiva um único processo temporal que contém a sua própria narrativa. Tenta apreender o passado, o presente e o futuro como uma totalidade dotada de sentido. A história deixa de ser a “mestra da vida” mas o que interessa é a construção do futuro planeado onde se inclui toda a humanidade e expectativas de futuro, o “futuro passado – contribuição à semântica dos tempos históricos” (Koselleck:2011). Uma semântica de sentido.
De facto, interessa-nos o Grupo português da Dinamarca, exilados de 1960-1974, como parte de um futuro passado, interessante para a Península Ibérica, sobretudo como construtor de um futuro, já que a construção de um futuro planeado não tivesse sido constituído, pelas limitações do golpe de Estado do 25 de abril de 1974.
Esses portugueses, naturalmente iberos dentro do atual euro-iberismo, enquadram-se no paradigma dos exilados portugueses. “Eu sou eu e a minha circunstância, e se não salvo a ela, não me salvo a mim” (Ortega y Gassett (1883-1955) frase emblemática do filósofo espanhol. O Paradigma dos exilados políticos, tão abrangente em pessoas e tempo, um Filinto Elísio (Lisboa, 1734-Paris, 1819) pseudónimo do Padre Francisco Manuel do Nascimento, perseguido pela Inquisição e exilado em Paris, e lá morreu; um Almeida Garrett (1799-1854) duas vezes exilado político em Inglaterra pelo seu empenho nas lutas liberais das quais resultou a Revolução Liberal de 1820 e a nossa primeira Constituição Portuguesa em 1822, com os direitos humanos e o direito à vida consignados. E tantos outros…
O Grupo da Dinamarca, na nossa perspetiva pessoal, adota um conceito de história novo, considerando-a como um processo temporal – o “futuro passado”, em que a história conflui na humanidade num futuro planeado. Estamos em crer que, na mentalidade atual, criará ainda algumas resistências e fugas ou abandonos. Mas algo evoluiu.
Por isso, começa por focar antecedentes remotos, desde o então Major Luís Calafate, organizador, em 1959, do primeiro golpe militar, a Revolta da Sé, em Lisboa, que visava derrubar a ditadura de Salazar, ou o golpe de Beja organizado pelo Capitão Varela Gomes em 1962, o exílio de Humberto Delgado, de Henrique Galvão, do então Reitor da Universidade do Porto, ou do exilado Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes.
Equacionando geração e revolução, distingue-se a Geração da República, ou a “Primeira República” que a implantou em 1910, mas que logo se desfez com o Golpe de Estado de Salazar e do Cardeal Cerejeira. Contudo, surgiu uma oposição protagonizada pelo então Major Calafate, Capitão Varela Gomes, General Humberto Delgado, D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto, Ruy Luís Gomes, Reitor da Universidade do Porto, bastante influenciada por Norton de Matos cujo programa eleitoral se baseava bastante na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, de 1948. Por isso, poderemos designar esta geração por “Geração das Nações Unidas”, se nos é permitido.
Existiam duas vertentes, uma eleitoralista e derrube da ditadura através de eleições e outra através de golpe de Estado. Já sabemos o seu desenlace. Exilados ou mortos (Delgado). Outra vertente de derrube da ditadura através de Golpe de Estado (duas tentativas). Resultou em exilados. Esta vertente foi, em nosso entender, a que vingou, já que o 25 de abril de 1974 foi um Golpe de Estado.
Com o 25 de abril inaugurou-se a “Terceira República” ou democrática, com a Constituição de 1976. Com o Tratado de Lisboa em 2007, ou talvez antes, reforçada com a política da Troika da União Europeia descoesa parece termos entrado numa “Quarta República” de desmantelamento do Estado social, segundo se pode ler na imprensa, se nos é permitida esta liberdade interpretativa.
Todo o presente é, geracionalmente, plural. O Grupo da Dinamarca pode definir-se como coetâneo integrando a “Geração de Sessenta”, uma geração polémica já com laivos de globalização, em Portugal, dentro da designada “Geração da Segunda República” mas negando o seu cunho ditatorial fascista, à semelhança do que designamos por “Geração dos Direitos Humanos”, por volta de 1950, que negava a “Geração da Segunda República” da ditadura de Salazar e Cerejeira.
A problemática da vida sob o signo da guerra e da paz, e do amor, já fora magistralmente focada por Tolstoi em Guerra e Paz (1865-1869), romance que poderá ser considerado património da humanidade.
Aspetos de irenologia, ou ciência da paz, ou sociologia dos conflitos focados por teóricos como Johan Galtung, professor da Universidade de Oslo, Noruega, 40 anos após o sueco Olof Palme (1923-1986). Galtung(1966, 1985) que chegou a propor um Parlamento Mundial ligado às Nações Unidas, bem diferente da dimensão do Parlamento Europeu e fundou o primeiro instituto de investigação sobre a paz, o International Peace Research Institute e, em 1964, a Revista de Investigação sobre a Paz, o Jornal of Peace Research; ou o espanhol Alfonso Ortega, professor de Irenologia, Paz e Direitos Humanos da Universidade Pontifícia de Salamanca, Presidente do Instituto Europeu de Retórica.
A par da irenologia, e em muitos aspetos numa dimensão complementar, salientam-se os estudos de polemologia, ou ciência da guerra ou sociologia das guerras (Bouthol:, 1951, 1976), ou o General Loureiro dos Santos (2014), especialista em polemologia, com relevantes estudos sobre o ciberespaço e o futuro da guerra. O Grupo da Dinamarca nasceu e viveu sob o signo da guerra e da paz. O futuro da democracia está relacionado com gerações seguidoras de Olof Palme, fundador do Partido Social-Democrata Trabalhista (ou dos trabalhadores) sueco, o Sverigessocialdemokratiskaarbetaparti, que concebeu a política através da meritocracia operária e os sindicatos que, na dialética partido/empresa funciona como barragem a tentativas partidocráticas e opta pelo trabalho.
Este conceito, em moldes diferentes, foi retomado como “comportamento das elites políticas” (Lijphart: 1968) conferindo-lhe mesmo uma importância capital e decisiva na tipologia dos regimes democráticos.Por outro lado, é na dialética das democracias reais (Allum: 1991) e das diferentes teorias (Sartori: 1993), da tensão entre a teoria e a prática, que se afirmam e distinguem as democracias e a liberdade. Segundo Bobbio (1984) a democracia não foi capaz de cumprir muitas das suas promessas.Investigadores atuais, com alguma aceitabilidade, distinguem sobretudo 4 gerações (Howe e Strauss: 1991, 2008) com períodos de nascimento e eventos marcantes. A primeira designam por Baby Boomers, nascidos entre 1930 e 1960), eventos como Vietname, Woostock, assassínio de John e Robert Kennedy, Luter King, guerra fria, corrida à Lua, televisão a cores; a geração X nascidos entre 1961 e 1980, a queda do muro de Berlim, televisão por cabo, PC, primeiros telemóveis; geração Y nascidos entre 1961 e 1980, com o 11 de setembro, guerras do Afeganistão e do Iraque, portáteis, internet, smartphones e, finalmente, a geração Z ou “nativos digitais”, as redes sociais, facebook. O Grupo da Dinamarca integra-se na primeira destas gerações, que optamos por designar por geração de sessenta.
Hoje, perante o desmembramento da URSS e a tipologia política da Rússia e países satélites, ou da grande potência República Popular da China, segundo alguns teóricos, a sofrer uma desmaoização, parece ter ganhado raízes o sentido do relativo, e que é difícil atribuir consistência e coerência a conceitos clássicos como direita ou esquerda.
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