«Crear en Salamanca», se complace en publicar el artículo crítica que Antonio Salvado ha escrito por la reciente publicación de la traducción del libro de Stefania Di Leo, realizada por Álvaro Alves de Faria, y Antonio Salvado, SOLO LA SOLEDAD, con una breve selección de algunos poemas en su edición portuguesa
Stefanía Di Leo con Álvaro Alves de Faria
UMA SÓ SOLIDÃO, poemas de Stefania Di Leo,
traduzidos do italiano para português por Álvaro Alves de Faria e António Salvado
Título revestido por uma certa ambiguidade semântica ( o que por si só e aliás aponta para a diversidade de ‘leituras’, como se verá), ele enforma, no entanto, de oportunidade para, com alguma propriedade, se avaliar, em perspectiva antológica, a poesia de Stefania Di Leo.
Poeta italiana de reconhecido mérito, a sua obra tem-se imposto, mediante traduções e referências críticas, a estudiosos e leitores de língua castelhana e portuguesa, o mesmo acontecendo no seu país de origem.
Uma Só Solidão afirmêmo-lo desde já, patenteia-nos a porta para, de poema em poema, podermos traçar as amplitudes e os afloramentos que tonificam o itinerário criador desta poeta.
E, dando início à nossa abordagem é o encanto pelos corpos e por tudo aquilo que os mesmos materializam que nos atrai, em simultâneo, com a busca dum paraíso que, afastando-se da morte e do fogo e que, evitando o surgimento da dor, recebe a esplendorosa carícia do sol. Um leve rumor evidencia o vazio da própria vida ou a cicatriz deixada pelas experiências assumidas durante o passar dos dias. Porque sem o amor o tempo é uma lágrima, e a vida, livre do amor, nada mais é do que escravidão. Aguarde-se, então, a primavera que proporcionará o germinar de anseios e de sonhos, e toda esta harmonia apesar das teimosas sombras capazes de envolverem o amor.
Após o que, que no recolhimento da solidão o silencio reconstrua o seu destino – um mar de impérios, as sendas do desconhecido e, até, os versos que falta serem fecundados; que as manhãs se desnudem, na procura da pureza que há-de condimentar o longo poema a ser, um dia, escrito e gravado na alma do ser amado. E. numa confluência surpreendente, a flor do jasmim, os álamos, as folhas caídas, os homens repousam agora no âmago de um silêncio criador. E, de novo, o ser amado divisa-se em cada coisa, em cada momento, numa procura ansiosa que foge à dor, que ilumina ainda mais a brancura dos sentimentos, que, enfim, harpeja um hino a tudo o que matiza a vida. No entanto, e surpreendentemente, a eficácia da angústia, as manchas das sombras, as insídias dos fantasmas alcançarão perturbar a paz tão almejada, nesta vivência de silenciosa solidão, engrandecida pela rapidez no passar das circunstâncias quotidianas e, ainda, pela incerteza, ora de traços angélicos, ora vertiginosa na sua irremediável e ampla dimensão. Às vezes, acontece, sem dúvidas que o quotidiano não consente que se evole para a tristeza. Existindo mil maneiras de amar, e as experiências e os sentimentos essa realidade verticalizam, no entanto ( e quantas vezes) o silêncio derramado na união e o ardor vivido da mútua entrega, podem apresentar-se também como fonte de desgaste.
E, derradeira paragem na presente ‘itinerância’, a consciência que a poesia se engrandece através da sua capacidade de ensinar e de, em paralelo aprender, até porque, nessa simultaneidade de achegas, chega a ouvir-se a voz do próprio Deus, emissor e receptor daquela capacidade.
E nesse vozear apercebe-se até o soar dum tambor acompanhando o ruído da alegria de crianças que caminham vencendo a escuridão e o silêncio.
António Salvado
Stefanía Di Leo con Antonio Salavado en la Plaza Mayor de Salamanca
Título cubierto por una cierta ambigüedad semántica (que en sí misma y de hecho apunta a la diversidad de ‘lecturas’, como se verá), sin embargo, brinda una oportunidad para evaluar, con alguna propiedad, en una perspectiva antológica, la poesía de Stefania Di Leo.
Poeta italiana de reconocido mérito, su obra se ha impuesto, a través de traducciones y referencias críticas, sobre estudiosos y lectores de español y portugués, sucediendo lo mismo en su país de origen.
Con una sola Soledad, afirmamos ahora, la puerta se nos abre para que, de poema en poema, podamos trazar las amplitudes y afloramientos que tonifican el itinerario creativo de esta poeta.
Y, comenzando nuestro acercamiento, es el encanto de los cuerpos y todo lo que materializan lo que nos atrae, simultáneamente, con la búsqueda de un paraíso que, alejado de la muerte y del fuego y que, evitando la aparición del dolor. , recibe la espléndida caricia del sol. Un leve rumor muestra el vacío de la vida misma o la cicatriz que dejaron las vivencias llevadas a lo largo de los días. Porque sin amor, el tiempo es una lágrima y la vida, libre de amor, no es más que esclavitud. Espera, pues, la primavera que proporcionará la germinación de los anhelos y los sueños, y toda esta armonía a pesar de las sombras obstinadas capaces de envolver el amor.
Luego, que en el recuerdo de la soledad, el silencio reconstruye su destino, un mar de imperios, los caminos de lo desconocido e, incluso, los versos que quedan por fecundar; que las mañanas son desnudas, en busca de la pureza que condimente el largo poema para ser, un día, escrito y grabado en el alma del amado. Y en una confluencia sorprendente, la flor de jazmín, los álamos, las hojas caídas, los hombres descansan ahora en el corazón de un silencio creativo. Y, nuevamente, el amado se ve a sí mismo en todo, en cada momento, en una búsqueda ansiosa que escapa al dolor, que ilumina aún más la blancura de los sentimientos, que, finalmente, arca un himno a todo lo que matiza la vida. . Sin embargo, y sorprendentemente, la eficacia de la angustia, las manchas de las sombras, la insidia de los fantasmas lograrán perturbar la ansiada paz, en esta experiencia de silenciosa soledad, magnificada por la rapidez en el transcurso de las circunstancias cotidianas y, aún, por la incertidumbre, ahora. huellas angelicales, ahora vertiginosas en su irremediable y amplia dimensión.
A veces sucede, sin duda, que la vida cotidiana no permite que evolucione hacia la tristeza. Hay mil formas de amar, y las vivencias y sentimientos que esta realidad verticaliza, sin embargo (y cuántas veces) el silencio derramado en la unión y el fervor ardiente de la entrega mutua, también pueden presentarse como fuente de desgaste.
Y, última parada en la actual ‘itinerancia’, la conciencia de que la poesía crece a través de su capacidad de enseñar y, en paralelo, de aprender, porque, en este acercamiento simultáneo, la voz de Dios mismo, emisor y receptor de esa habilidad.
Y en esa voz se da cuenta de sí mismo hasta que el sonido de un tambor acompaña el ruido de la alegría de los niños que caminan superando la oscuridad y el silencio.
António Salvado
Álvaro Alves De Faria
Poemas en edición portuguesa
DESNUDEI TODAS AS MANHÃS…
Desnudei todas as manhãs
a procurar um certo poema,
que, separado em duas partes,
conservava o teu nome.
Despojei a primavera do seu trono,
sonhando encontrar o pólen dos teus beijos
num mar sedento.
Procurei os meus desejos e no olhar cigano
da noite feriram-se os meus sonhos.
Ao cruzar as águas negras da morte,
encontrei o meu último poema.
Embruxou-me os lábios, enterrou-se no meu corpo…
Desnudei-me num baile imortal de maçãs,
entre trombetas moribundas.
Disfarcei os deuses numa azinhaga perdida
de palavras, e num cemitério de versos subtis,
bailei embriagada, unindo a minha loucura
aos encantos da tua sede.
Quebrei o teu olhar num lenho índio
a arder pelo tempo.
Vesti a lua com diamantes,
e conservei a pele do mais bravo guerreiro,
para te dar o selvagem fogo do amor.
O vasto poema que, por entre palavras de água,
escrevi na tua alma.
KARIS
A flor do jasmim está mais branca
pela chuva da noite passada.
Os álamos estão mais verdes
na bruma da manhã.
As folhas caídas levou-as o vento,
as aves cantam, e dormem os duendes do monte.
Os homens repousam.
A noite está tranquila, lentamente o verão chega.
Aparece a lua a surpreender tudo.
Tudo permanece silencioso. E no preciso momento,
acabo por descobrir a silêncio
e sentada acabo por partilhar a seiva do salgueiro,
e, queimando incenso, leio poemas já esquecidos.
Dormindo na primavera, não se vêem anjos.
Num lugar suave, ouvem-se apenas os seus cantos,
Aproximam-se fantasmas: quem sabe quantos.
PROCURO-TE
Procuro-te em cada coisa
e em cada coisa encontro o teu olhar –
de ti estou sempre ao lado.
Acordado ou a dormir,
silencioso ou a falar,
sentindo o queimor do fogo
eu permaneço contigo.
Quando os teus braços me envolvem
se eu estiver melancólico
ou se tu fores para longe –
em cada canto te aguardo
e em cada alvorecer ponho a minh’ alma.
E sempre contigo, amor.
Quando estás abatido
ou quando te falta o ar
ou quando te desesperas,
estou contigo sempre,
bem junto a ti,
imensamente próximo.
Tudo termina…
Amo a neve e essa patina
que se põe por cima do horizonte,
tapando tudo o que dói.
Amo o remoinho da paixão
que as rosas me provocan quando as olho
e o vermelho das festivas pétalas.
Admiro esses matizes de carmini
que não se inscrevem na minha memória.
Amo a brancura e a paisagem imensa
habitada por um silêncio sideral –
onde se aloja a paz do espÍrito
e o gelo é uma gota de cristal.
Inundo-me de branca formosura,
Vejo as estrelas bailarem
e a procurar o halo por entre os homens.
Alheia é a maldade que percorre a terra,
alheio é o mal que nos persegue.
Todo termina como os crepúsculos.
Todo termina, excepto as essências.
E eu canto un hino á vida
donde o Eden dos meus sonhos…
Traduccion de Alvaro Alves de Faria.
SOMBRAS
Para minha doce mãe
Sombras te rodeiam, mas não sabes.
Desagradável é a companhia de teu olhar,
tenro enquanto o corpo sofre
na inveja de tua coragem sobre mim.
Foi impossível
amar a vida neste mundo
cruel na medida exata,
porque nada nos ensinou
para afastar a ameaça do tempo,
essa realidade insondável
que a vida nos mostra,
agora que estamos rodeados de sombras
que se apoderam de nós
e de um antigo silêncio.
Estamos cercados de sombras,
avançamos pela solidão
de nossas palavras, agora que nos deixam
lágrimas no rosto.
HÁS DE RESSURGIR NESTA
PRIMAVERA
Em memoria de Antonio Varella, homenagem do
Centro Histórico de Nápoles. E para Liliana Del Sole e
Mario Capasso, que me ensinaram a amar esta cidade.
Hás de ressugir nesta Primavera,
extasiado pelos eclipses da Lua,
sem perder o briho da luz
no céu dessa noite de sempre.
Primavera que abre nossas almas
como flores que nascem.
Primavera que murmura a canção atávica
dos amantes Tristão e Isolda.
Estação de corais e de Pléiades
que se manifestam de repente
como a paixão que nos assalta.
Primavera que germina, folha, floresce
doando seu amor que se repete.
Primavera que só Deus abençoa
e nenhum homem contamina.
Entre cânticos de pintassilgos e pombos,
seu hino é ouvido no alto,
grito de juventude entre os anjos
que sobem ao tesouro do Mar Morto.
Primavera:
“apagam-se as luzes, um novo dia se inicia”.
(“si spengono le luci, inizia un nuovo giorno”)
A VIDA TRIUNFA
Para Miguel Elias, o poeta da arte.
Fiquemos seguros
onde a vida triunfa,
aquele velho sonho
que nos visitava de surpresa
para atuar no teatro
absurdo da existencia,
agora quase impossível
na última verdade de nossas mãos,
essa dor que não cabe numa palavra
porque esqueceu-se como se acaricia
depois do último verão
perdido numa tristeza aguda
que na vida vem e vai,
até o hábito infiel de nossas carências.
Deixei o silêncio fazer o seu destino
nesta trégua indecente
que ofereço ao calor
presente de tuas mãos
dentro do cenário
onde atua o fracasso,
saboreando com certa sensação de vertigem,
o medo que a noite nos impõe,
enquanto colocamos cuidados nas despedidas,
memória instantânea no desejo de teus lábios.
MELODIAS MILAGROSAS
Para Álvaro Alves de Faria
Os ramos destas árvores
desnudam o desejo do ar,
foram os braços de empresas sanguinárias,
colunas que, em Atenas,
permitiram povoar o mar de impérios,
esporas responsáveis
que demarcam a terra,
o chão dos navegadores.
Estes ramos foram paredes
que limitam as cinzas da razão cansada,
os ouvidos maiores que, em silêncio,
se moveram para amarelar o céu.
Suas memórias intensas
se parecem com uma espiral profunda
que lustram melodias milagrosas.
ESTA LUA
Para Antonio Salvado
Empunharei esta lua
para acender a luz
na tua pele de neve
e prosseguir a fecundação da espécie.
Despregarei de tuas vísceras
e ouvirei novas vogais.
Em mim te elevas para oscilar
os traços do deconhecido
e dissolver os tiros de acasos
em peles antigas.
Sobre nós dança o teto,
tua luta sísmica,
as paredes contam as fábulas do susto.
Passo por aqui
ajustando o desejo de voltar.
O Juízo Final é uma meta
que o corpo insepulto não pode controlar,
sete línguas de fogo patagônico
para delatar minha própria renúncia.
17
Imaginemos: minha esperança consumida voará
em uma corrente de vento de folhas de manga
e meus acordes ingênuos
em uma dança gitana.
Saibamos: habitarei minha casa
durante a noite,
viverei versos celibatários que nunca fecundei.
Ouçamos: nada me estranha, porque desejarei
minha memória e sua palavra intrigante.
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