EL RINCÓN DE LAS FECHAS IMPARES / O RECANTO DAS DATAS ÍMPARES. POEMAS DE ABDUL HADI SADOUN TRADUCIDOS AL PORTUGUÉS POR MANUEL NETO DOS SANTOS

 

El poeta, traductor y novelista Abdul Hadi Sadoun

 

Crear en Salamanca se complace en publicar una nueva traducción del poemario TODOS ESCRIBEN SOBRE EL AMOR MENOS TÚ, del poeta iraquí Abdul Hadi Sadoun (Bagdad, 1968), escrito y publicado en español el año 2018 por la editorial madrileña Bala Perdida. Esta vez la traducción es al portugués, gracias al entusiasmo y generosidad del poeta y traductor  Manuel Neto Dos Santos. Aquí reproducimos  la Segunda parte del libro, en español y portugués.

 

 

Portada todos escriben sobre el amor menos tú

 

 

EL RNCÓN DE LAS FECHAS IMPARES

O RECANTO DAS DATAS ÍMPARES

 

 

 

15/2

 

No hay suficientes mañanas

para distinguir la ausencia.

 

No puedo verte,

porque no puedo soñar

propongo al día un largo suspiro

                y profundo almacén.

 

Incansablemente,

se cansa de sellar el aliento.

 

 

15/2

 

Não há manhãs  que bastem

para distinguir a ausência.

 

Não posso ver-te,

porque eu não consigo sonhar

proponho ao dia um longo suspiro

e profundo armazenamento.

 

Incansavelmente,

ele cansa-se de selar o seu  fôlego.

 

 

 

11/03

 

En el momento preciso, 

no vuelan los deseos 

sino las hojas de la última soledad, 

y

    precisamente  

             en un suspiro. 

 

 

11/03

 

No momento exacto,

os desejos não voam

tão somente as folhas da derradeira solidão,

e

precisamente num suspiro

 

Foto de José Amador Martín

 

 

17/3

 

En los libros

inventamos la historia, 

en la palabra, la vida

¿En qué rincón de la memoria

-oh Hacedor de los huecos-

sembramos el olvido?

 

 

 

17/3

 

Nos livros

inventamos a história,

na palavra, a vida.

Em que recanto da memória

-oh, criador dos vazios –

semeamos o esquecimento?

 

 

23/3

 

Siempre existen (Siempres) 

en la otra vida renunciaré 

a la mala costumbre 

de estarme en su cima.   

 

Los siempres que me hieran.

 

 

23/3

Sempre existem (sempres)

na próxima vida, renunciarei

ao mau hábito

de me encontrar no seu topo.

 

Os sempres que  me ferem.

 

 

25/3

 

«Felices sueños» 

dice la gata rubia  

que no lame mejillas 

ni acaricia mano.    

 

Dulce gata 

mua mua mua 

y sueña cual seda

            envuelta al viento.

 

 

25/3

«Sonhos felizes»

diz a gata loira

que não lambe as bochechas

nem a mão carícia.

 

Doce gata

mua mua mua mua

e sonha como a seda

embrulhada  no vento.

 

 

Foto de José Amador Martín

 

 

31/3

 

Todos los caminos, por su calle, pasan

Menos mi camino

Cual un círculo misterioso

De un lado a otro

Y nunca me lleva hacia ti.

 

 

31/3

 

Todos os caminhos, pela sua rua, passam

menos o meu caminho

tal como um círculo misterioso

de uma a outra ponta

e nunca me leva para ti.

 

 

 

1/4

 

En la próxima vida 

sembraré un bosque de color alfalfa 

para no quedarme huérfano 

del deseo eterno del jardín derivado.

 

 

1/4

 

 

Na próxima vida

Semearei uma floresta de cor de luzerna

para que eu não me torne um órfão

do desejo eterno do jardim derivado.

 

 

 

 

7/4

 

No se puede engañar al día

tampoco las señales

este carga profunda

no es de mera casualidad,

algún pájaro va cantando

aquí se pasea la mañana

acompañada de la eterna beldad.

 

 

7/4

 

Não se pode enganar o dia

nem sequer os sinais

este fardo profundo

não é por mera casualidade,

vai cantando um pássaro qualquer

por aqui passeia-se a manhã

acompanhada  pela eterna beldade.

 

 

13/4

 

Alquimista, realista, idealista, torpe,

ciego con luz 

cristo sin milagro 

así es la palabra:

hoja seca

al rumbo  del viento.

 

 

13/4

 

 

Alquimista, realista, idealista, desajeitado,

cego com luz

Cristo sem  milagre

Assim é a palavra:

folha seca

nas mãos do vento.

 

 

Foto de José Amador Martín

 

15/4

 

Espero no moleste      

mi presencia pesada 

en este rincón de hechizos.   

 

Ritmo casual 

En reality impreciso.  

 

 Simplemente un hueco.

 

15/4

 

 

Espero que não importune

a minha pesada presença

neste recanto de feitiços.

 

Ritmo casual

Em reality imprecisa.

 

Somente um buraco.

 

17/4

 

Recordando algunas mañanas

tantas y recuerdan

leves tactos

y soplos para revelar.

 

Recordar no es por algunas

mañanas que nos recuerdan.

 

 

17/4

 

 

Lembrando  algumas manhãs

tantas e lembram

toques ligeiros

e sopros para revelar.

 

Lembrar não é por algumas

manhãs que nos lembram.

 

Foto de José Amador Martín

 

 

 

27/4

 

Repetidos

estos instantes

si no es por el fruto,

para que sirva tanta espesura.

 

Esta inclinación

mirada vaga

y cansa.

 

 

27/4

 

 

Repetidos

estes instantes

se não é pelo fruto,

para que sirva tanta espessura.

 

Esta inclinação

olhar  vago

e cansa.

 

 

 

15/2

 

Tanto

y te echo,

que me duelen las noches

y el enigma de estar a solas

sin que te cierren los oídos del recuerdo

ni los ojos de la sed.

 

15/2

 

Tanto

e lanço-te,

que me doem as noites

e o enigma de estar sozinho

sem que se te fechem os ouvidos da memória

nem os olhos da sede.

 

 

1/3

 

Leer, escribir, comer

o como se dice

hacerse la vida.

Pero el sabio Machado

lo dijo hace mucho:

Un corazón solitario

no es corazón.

 

 

1/3

 

Ler, escrever, comer

ou como se costuma dizer

fazer-se à vida.

Mas o sábio Machado

disse-o há muito tempo:

Um coração solitário

não é coração.

 

Foto de José Amador Martín

 

21/3

Siempre pienso en ti,

aunque no estoy seguro

de que el viento me ayude a llevarte

mis desgastadas palabras.

 

21/3

 

 

Penso sempre em si,

embora não tenha a certeza

de que o vento me ajude a levar-te

as minhas palavras desgastadas.

 

 

13/5

 

También la cabeza 

igual te añora como el resto,

 en la distancia y desde cerca.   

 

La

    cabeza

          da vuelta 

               en cada esquina del alma.

 

 

13/5

 

Também a cabeça

sente saudades  como o resto,

à distância e mesmo ao lado.

 

A

cabeça

rodopia

em cada canto da alma.    

 

Foto de José Amador Martín

 

 

19/5

 

Qué extraña es el alma 

no se cansa en su dolor. 

 

Qué extraña

y sigue

qué extraña.

Arriba y abajo – decía el verso-

se me abre el alma.

 

19/5

 

 

Quão estranha é a alma

na sua dor não se cansa.

 

Quão estranha

e persiste

que estranha.

Para cima e para baixo – dizia o verso –

abre-se-me a alma.

 

 

 

21/5

 

Hojas que vuelan

En el marco pintado

 

Hojas que descansan

En el marco emitido.

 

Hojas que desecan

En el marco desolado.

 

Hojas que se van

Hojas que no vuelven.

 

 

21/5

 

 

Folhas  que voam

na moldura pintada

 

Folhas que descansam

na moldura enviada.

 

Folhas que secam

na moldura desolada.

 

Folhas que abalam

folhas sem voltar.

 

Foto de José Amador Martín

 

23/5

 

Estos días veraniegos

este corazón colmado, 

y este alma que se me abre. 

 

No en vano 

que  descansan mis hojillas 

en tu tronco ideal.

 

 

23/5

 

 

Estes dias estivais

este coração raso,          

e esta alma que se me abre .

 

Não em vão

que descansam as minhas folhinhas

no teu tronco ideal.

 

 

 

25/5

 

Ayer en tu jardín perfumado

no pude oler tus cabellos

tampoco bebí de tu fuente.

 

El ruiseñor de mi noche

llora

sus plumas mojadas.

 

 

25/5

 

 

Ontem no teu jardim perfumado

não consegui cheirar os teus cabelos.

nem bebi da tua fonte.

 

Chora o rouxinol da minha noite

as suas penas molhadas.

 

 

Foto de José Amador Martín

 

9/6

 

En qué rincón de la espera 

afincamos la vuelta 

y en qué vuelta 

nos espera la calma.  

 

¡ay de los pasos  y de nuestras ataduras!

 

 

9/6

 

 

Em que recanto da espera

 estabecelemos o regresso                    

 

e em que regresso

a calma nos aguarda.

 

Ai dos passos e dos nossos enlaces!

 

 

23/6

 

Pensando en ti

y en las horas que nos falten,

en las caricias que me tumban por su peso

y en las tentaciones que me muerden,

                                    recordándome de ti;

Pensando en las mañanas

que nos embellecen dos veces al día

una antes de dormir

y otra mientras dormimos.

 

Pensando en ti,

es un espigado hilo de retocar.

 

 

23/6

 

Pensando em ti

e nas horas que nos restem,

nas carícias que me derrubam pelo seu peso

e as tentações que me mordem,

lembrando-me de ti;

 

Pensando nas manhãs

que nos embelezam duas vezes por dia

uma antes de dormir

e a outra enquanto dormimos.

 

Pensar em ti,

é um esguio fio de retocar.

 

 

25/6

 

¿Dónde buscar?

si los bardos huertos son para los valientes

y los dichosos románticos.

Un silla me basta,

para descansar la vista.

 

 

25/6

 

 

Onde procurar?

Se os bardos hortos são para os corajosos

e os românticos ditosos.

Uma cadeira é me basta,

para descansar a vista.

 

Foto de José Amador Martín

 

21/7

 

Se me ocurre decirte muchas cosas

se me ocurre,

olvidándolo todo en los viajes.

Pero

siempre se me ocurren cosas para decirte,

se me ocurre…

 

 

21/7

 

Ocorre-me dizer-te muitas coisas

ocorre-me,

tudo esquecendo nas viagens.

Mas

sempre me ocorrem coisas para te dizer,

ocorre-me…

 

 

11/11

 

Mal de dormir 

si los ojos rozados no se tumban. 

Mal de mí, 

cerca de las cigüeñas

y no anido en ningún hogar.   

Mal de mí…

 

 

11/11

 

Mal do sono

se os olhos roçados não tombam.

Mal de mim,

perto das cegonhas

e eu não aninho em nenhum lar.

Mal de mim…

 

 

 

31/12

 

Aquí el alma no se derrite,

se regala.

 

 

31/12

 

A alma aqui não se derrete,

oferece-se.

 

 

Manuel Dos Santos

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