Crear en Salamanca tiene el privilegio de publicar las traducciones inéditas que acaba de realizar, este 25 de abril y en Brasilia, el destacado poeta brasileño Anderson Braga Horta (Carangola, Minas Gerais, 1934). Es membro de la Academia Brasiliense de Letras, Premio Jabutí (Cámara Brasileña del Libro, S. Paulo, 2001), Premio Nacional de Poesía Olavo Bilac (1964) y Prêmio Internacional de Literatura Brasil-América Hispânica, (Minas Gerais,2007). Son frecuentes sus artículos en los principales periódicos y revistas de Brasil y Portugal.
Anderson Braga Horta, entrevistado
Entre su obra poética puede señalarse los siguientes títulos: “Altiplano e outros poemas”, “Marvário”, “Incomunicação”, “Exercícios de Homem”, “Cronoscópio”, “O cordeiro e a nuvem” e “O pássaro no aquário” (entre 1971 e 2000); “Fragmentos da paixão: Poemas reunidos”, “Pulso” e “Quarteto arcaico”, 2000; “Antologia pessoal”, “Thesaurus”, “Brasília”, 2001; “50 poemas escolhidos pelo autor”, “Galo branco”, “Rio”, 2003; “Soneto antigo”, “Brasília”, 2009; “Elegia de Varna”, trad. Rumen Stoyanov, “Sófia”, 2009; “Signo: Antologia metapoética”, “Thesaurus”, 2010; “De uma janela em Minas Gerais – 200 sonetos”, “Guararapes – EGM”, 2011; “De viva voz”, “Thesaurus”, 2012; “Tiempo del Hombre”, “Lima”, 2015. Conto: “Pulso instantâneo”, “Thesaurus”, 2008. Ensaio “(Thesaurus): A aventura espiritual de Álvares de Azevedo”, 2002; “Sob o signo da poesia”, 2003; “Traduzir poesia”, 2004; “Testemunho & Participação”, 2005; “Criadores de mantras”, 2007; “Proclamações”, 2013; “Do que é feito o poeta”, 2016, entre otros.
QUATRO POETAS SUL-AMERICANOS TRADUZIDOS
PARA O PORTUGUÊS
(Brasília, 25 de abril de 2021)
Alfredo Pérez Alencart por José Amador Martín
ALFREDO PÉREZ ALENCART
(Perú, 1962)
HUMILLACIÓN DE LA POBREZA
(Niño de tres años vendiendo chicles)
No decir tu nombre. Decir tus ojos reflejando fríos
decir tus manos extendidas; decir que perdiste niñez
porque un remolino de pobreza te estrelló por calles
donde escuchas palabras bruscas y palabras huecas.
No decir tu país o tu ciudad. Decir tu futuro en vilo,
dependiendo de valentías o vergüenzas devoradoras;
decir que subsistes en medio de los días quemados
y que no desfalleces, aunque todavía eres vulnerable.
No decir el color de tu piel. Decir que las hambres
te gritan desde que naciste; decir que tu foto no sale
en las páginas sociales; decir que el día te hizo cauto
y que la noche y sus rapaces están ahí para devorarte.
No decir discursos políticos o teológicos. Decir que
nadie remienda tus zapatos; decir que tu desamparo
se debe al orbe asqueroso de la codicia; decir llanto,
injusticia procaz, rabia ciega; decir pan mío para ti.
HUMILHAÇÃO DA POBREZA
(Menino de três anos vendendo chicletes)
Não dizer teu nome. Dizer teus olhos refletindo frios
dizer tuas mãos estendidas; dizer que perdeste meninez
porque um redemoinho de pobreza te estraçalhou por ruas
onde escutas palavras bruscas e palavras ocas.
Não dizer teu país ou tua cidade. Dizer teu futuro em suspenso,
dependente de valentias ou vergonhas devoradoras,
dizer que subsistes em meio aos dias queimados
e que não fraquejas, mesmo sendo vulnerável.
Não dizer a cor de tua pele. Dizer que as fomes
te gritam desde que nasceste; dizer que tua foto
não sai nas páginas sociais; dizer que o dia te fez cauteloso
e que a noite e seus rapinantes estão aí para te devorar.
Não dizer discursos políticos ou teológicos. Dizer que
ninguém remenda teus sapatos; dizer que teu desamparo
se deve ao orbe asqueroso da cobiça; dizer pranto,
injustiça procaz, raiva cega; dizer pão meu para ti.
Gustavo Pereira
GUSTAVO PEREIRA
(Venezuela, 1940)
SOBRE SALVAJES
Los pemones de la Gran Sabana llaman al rocío Chirïké-yeetakuú,
que significa Saliva de las Estrellas; a las lágrimas Enú-parupué,
que quiere decir Guarapo de los Ojos, y al corazón Yewán-enapué:
Semilla del Vientre. Los waraos del delta del Orinoco dicen Mejo-
koji (El Sol del Pecho) para nombrar al alma. Para decir amigo di-
cen Ma-jokaraisa: Mi Otro Corazón. Y para decir olvidar dicen
Emonikitane, que quiere decir Perdonar.
Los muy tontos no saben lo que dicen
Para decir tierra dicen madre
Para decir madre dicen ternura
Para decir ternura dicen entrega
Tienen tal confusión de sentimientos
que con toda razón
las buenas gentes que somos
les llamamos salvajes.
De: Escrito de salvaje (1993)
Canción con sol para mi amiga
Mi amiga tiene un sol que no conozco
Un sol dentro del pecho
que sale de sus ojos
y me abrasa
A cada roce suyo capitulan
la calle la ventana y mi destino
Es como si cayeran uno a uno
los males de este mundo
y se alzaran en vilo los hechizos
en el polvo
O como si mojados por la lluvia
se estremecieran los amantes
alucinados de repente
Mi amiga tiene un sol desconocido
que me asedia en su lecho
y me sojuzga.
SOBRE SELVAGENS
Os pemons da Grande Savana chamam o orvalho de Chirïké-yeetakuú,
que significa Saliva das Estrelas; as lágrimas, de Enú-parupué,
que quer dizer Garapa dos Olhos, e o coração de Yewán-enapué,
Semente do Ventre. Os waraos do delta do Orinoco dizem Mejo-
koji (O Sol do Peito) para nomear a alma. Para dizer amigo di-
zem Ma-jokaraisa: Meu Outro Coração. E para dizer olvidar di-
zem Emonikitane, que quer dizer Perdoar.
Os tolos não sabem o que dizem
Para dizer terra dizem mãe
Para dizer mãe dizem ternura
Para dizer ternura dizem entrega
Têm tal confusão de sentimentos
que com toda a razão
as boas pessoas que somos
os chamamos selvagens
CANÇÃO COM SOL PARA MINHA AMIGA
Minha amiga tem um sol que não conheço
Um sol dentro do peito
que sai de seus olhos
e me abrasa
A cada roçar seu capitulam
a rua a janela e meu destino
É como se caíssem um a um
os males deste mundo
e em suspensão se alçassem os feitiços
no pó
Ou como se molhados pela chuva
se estremecessem os amantes
alucinados de repente
Minha amiga tem um sol deconhecido
que me assedia em seu leito
e me subjuga
N.T.: Gustavo Pereira es el inventor de los somaris, poemas breves que unen la estructura formal de los haiku japoneses con el contenido filosófico de los epigramas.
Gustavo Pereira é o inventor dos somáris, poemas breves que unem a estrutura formal dos haicais japoneses com o conteúdo filosófico dos epigramas.
Eduardo Dalter
EDUARDO DALTER
(Argentina, 1947)
LOS DÍAS EN QUE NADIE SABE NADA
Nadie puede asegurarse cuándo será el día de mañana,
si dentro de algunas horas o de un mes o acaso años,
nadie puede saber cuándo volverá a caminar
tranquilo o despreocupado o nervioso por las calles,
nadie sabe, nadie alcanza a entender,
si algún país, o algún amigo, perecerá mañana,
o si acaso se cayó o se partió hace unos días,
nadie sabe nada a ciencia cierta: ni cuál follaje,
cuál paisaje, o cuál oscuridad, tendrá el mes de mayo,
aunque algunos piensan y recuerdan a sus primos,
a sus tíos lejanos, o a la escuela en que aprendieron
cómo se multiplica, cómo se resta y cómo se divide,
mientras, las calles siguen vacías, y las esperanzas
nadie alcanza a comprender si están vacías
o llenas, o si de verdad existen en el hueco de esta hora,
hay una sensación de que todo se dispersa o queda
flotando, flotando, para nada o para nadie,
o como si dios muy cansado, o muy aturdido,
se hubiera mudado para siempre a otra galaxia…
Buenos Aires, 1 de abril, 2020
OS DIAS EM QUE NINGUÉM SABE NADA
Ninguém pode estar seguro do dia de amanhã,
se dentro de algumas horas ou de um mês ou talvez anos
ninguém pode saber quando voltará a caminhar
tranquilo ou despreocupado ou nervoso pelas ruas,
ninguém sabe, ninguém alcança entender,
se algum país, ou algum amigo, perecerá amanhã,
ou se acaso caiu ou se partiu faz uns dias,
ninguém sabe nada de ciência certa; nem que folhagem,
que paisagem, ou que escuridão, terá o mês de maio,
se bem que alguns pensam e recordam a seus primos,
a seus tios distantes, ou à escola em que aprenderam
a multiplicar, subtrair e dividir,
no entanto as ruas continuam vaias, e as esperanças
ninguém consegue entender se estão vazias
ou cheias, ou se de verdade existem no oco desta hora,
há uma sensação de que tudo se dispersa ou fica
flutuando, flutuando, para nada ou para ninguém,
ou como se deus, muito cansado, ou muito aturdido,
se tivesse mudado de uma vez para outra galáxia…
José Pérez
JOSÉ PÉREZ
(Venezuela, 1966)
PIE CALIENTE PARA SALUDAR EL AMANECER
Tres letras dentro de mis pantuflas
(dos vocales una consonante)
salen andando hacia la nada La temporal secuencia
Cómplice despunta el sol El satélite envía la hora
China amanece cuadrada Nueva York ovalada
París es un ángulo obtuso Madrid una cuadrícula
Sao Paolo musgos y plumas
Montreal hierve en hielo
La casa tiembla en la llama de la estufa
cae alguna hoja arrepentida del árbol
los perros ponen su excrecencia en la plaza del héroe
los niños corren hacia sí mismos
La diversión empieza
se ha dado en girar el mundo en su hora
Es real
alguien apaga en su alcoba su último suspiro
los amantes terminan su mentira fugaz
los transportes se mueven
juegan a la guerra las luces del semáforo
la pista está disponible para el próximo avión
crucemos la línea La delgada línea roja
Llegó el amanecer
Cuando llegue la noche
seguimos de regreso
PÉ QUENTE PARA SAUDAR O AMANHECER
Três letras dentro de meus chinelos
(duas vogais uma consoante)
saem andando em direção ao nada A temporal sequência
Cúmplice desponta o sol O satélite envia a hora
A China amanhece quadrada Nova York ovalada
Paris é um ângulo obtuso Paris um quadradinho
São Paulo musgos e plumas
Montreal ferve em gelo.
A terra treme na chama da estufa.
cai alguma folha arrependida da árvore
os cães depositam sua excrescência na praça do herói
os meninos correm rumo a si mesmos
A diversão começa
põe-se a girar o mundo em sua hora
É real
alguém apaga na alcova seu último suspiro
os amantes terminam sua mentira fugaz
os transportes se movem
brincam de guerra as luzes do semáforo
a pista está disponível para o próximo avião
cruzemos a linha A delgada linha vermelha
Chegou o amanhecer
Quando chegar a noite
vamos de regresso
Sudamérica
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