Crear en Salamanca tiene el privilegio de publicar cinco textos inéditos, escritos por poetas brasileños y portugueses. Los mismos saldrán publicados en ‘Eunice, cien veces cien’, antología dedicada a celebrar el centenario de Eunice Odio, la magnífica poeta costarricense-guatemalteca-mexicana. La obra está cargo del poeta y profesor de la Universidad de Salamanca A. P. Alencart, también director del XXII Encuentro de Poetas Iberoamericanos que se celebrará en Salamanca del 14 al 17 de octubre.
ÁLVARO ALVES DE FARIA
(Brasil)
Álvaro Alves de Faria leyendo sus versos en el Teatro Liceo de Salamanca (Foto de Jacqueline Alencar)
POEMA PARA EUNICE ODIO
Vem e arranca de mim tua alegria da manhã,
com as mãos que sabem juntar os pedaços de minha alma,
porque tudo pode ser perder
nesse abrir os braços e rodopiar na ciranda do tempo,
o que guardo em mim como um animal noturno,
aquele que se busca nas palavras de tantos poetas,
esse verso lírico de São João da Cruz,
esse poema de Florbela Espanca que me desvenda,
essa palavra de tantos poetas que me habitam
e me conduzem o espírito errante
para o estado lírico da poesia.
Sou mulher e abro em mim as portas e as janelas,
assim como abro a vida a esse amor que me acolhe
e me faz descobrir cada vez mais o corpo que me guarda,
que me faz viver o que desejo,
meu sexo como o pássaro que me habita
e voa em mim
o que me quero e me renasce a cada instante.
Vem e me pega à relva molhada da noite
em que te busco em meus arredores,
vem e vive em mim essa vida que não se contém
e me desperta para o me faz viver
a caminhar em mim com passos das distâncias
em que me encontro.
Haverei de sonhar sempre
e haverás de sonhar comigo
LEOCÁDIA REGALO
(Portugal)
Leocádia Regalo (Foto de José Amador Martín)
SOU A TUA CASA
Amado,
hoy te he buscado sin hallarte
por entre mi ciudad
y tu ciudad extraña
Eunice Odio
Moras em mim.
Esperei todo este tempo
e cheguei a pensar que
não existias.
Mas és real, pessoal e transmissível.
secreto, oculto, íntimo, recôndito,
indiviso , uno, diverso, em mim.
Posso-te chamar espelho,
mel, cetim, fogo,
reflexo, chão, mar,
semente, sol,
pão, alperce, “piel canela”,
âmbar, coral, marfim,
colibri, condor, fénix,
alma gêmea, Deus,
cometa, Estrela Polar,
cravo, liberdade,
paz.
Mas sempre serão poucas
as palavras para te nomear
Amor.
CLAUDER ARCANJO
(Brasil)
Clauder Arcanjo (derecha) con Alencart y Colinas (foto de Jacqueline Alencar)
RELICÁRIO DE COSTA RICA
Para Eunice Odio
(in memoriam)
Uma cascavel, casca de antigas pedras,
Não bebe esta lua, nem a madrugada.
Estamos sempre sós; entre nós e este vazio,
Há apenas meu silêncio e tua voz inteira.
O sexo matinal, em que acordamos na borda do mundo,
E eu, desnudo, a sentir tua palavra a me despir profundo.
Teus longos braços, brancos animais noturnos,
Solfejam um canto-lágrima à morte deste mundo.
Parece impossível, Eunice, nosso anjo vivo,
Que entre nós ressurja o azul daquela noite.
Ninguém nunca decifrou tua geografia íntima: azul relicário.
Há muitos degredos e enredos nas ricas costas do teu rochedo.
RIZOLETE FERNANDES
(Brasil)
La poeta Rizolete Fernandes en en Teatro Liceo (foto de José Amador Martín)
EUNICE ODIO REABILITADA
Em país de intermédio geográfico tu brotaste
Cedo, as asas do vento ao norte te levaram
por destino, intrínseca, primordial inquietação
Desde sempre te moveu genuína fé no sagrado
fé sedimentada em continuadas e fundas leituras
dos textos bíblicos, fonte de amor e estesia
poética. Tanto conhecimento transferiste à poesia
em versos transbordantes de espiritualidade amorosa
mistério e encantamento com o ser humano, a vida
Te respaldava a verdade, poeta; era a humildade
teu apanágio, imune que foste ao mundano apelo
da materialidade, aos sistemas que apequenam a alma
Tua escrita se equipara à mais alta e rica do tempo
em que viveste, inexplicável que paire em nossos dias
sob a ingrata lei do silêncio pela morte estabelecida
Por seres mulher, e tributo aos vendilhões não teres pago?
Contudo, porque com lustre exerceste o sacerdócio d’ arte
e porque sempre existe quem da alta poesia não olvide
tua vasta e bela obra, Eunice Odio, doravante é reabilitada!
LEONAM CUNHA
(Brasil)
Leonam Cunha leyendo sus versos en el Teatro Liceo de Salamanca (foto de Jacqueline Alencar)
SONETO DISFORME A EUNICE ODIO
No te digo “ven” porque tú ya has llegado.
Sin avisar llegaste, pero esa llovizna
que hizo de mi carne miel, erizo y milagro
fue una señal de ventura entre la tizna
Mi cuerpo sin mucha materia de amar
descubrió los líquenes dentro del tuyo,
supo esconder su pobre forma de andar,
aunque siempre ha propiciado barullos
Tú con tus manías de silencio mientras
yo grito con todos los músculos y busco
adornarme con ramos y flores el busto
para que no te asustes entre tanto entras
en mis deseos profundos. Y el mundo
en este lapso ya no existe. Lo derrumbo.
XAVIER ZARCO
(Portugal)
RECORDO
“el pájaro cantarín”
Eunice Odio
“aunque es de noche”
San Juan de la Cruz
recordó era criança e percorria
os caminhos dos montes mas a música
de uma fonte esculpindo a rocha diz-me
não da água mas de um pássaro que canta
mesmo que a noite em mim teime em tecer
a sua manta
lembro-me seguia
como pássaro ou rio a ser somente
informe ao meu destino
sem saber
que a via percorrida para a foz
era a mesma que um dia me trará
para a nascente
um pássaro o diz canta-o
embora seja noite e talvez sonhe
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